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Cinema da Alemanha comunista em Nova York

(av)11 de outubro de 2005

Apesar de sua relevância temática e artística, a quase totalidade da produção cinematográfica da RDA permanece desconhecida tanto na Alemanha como no exterior. Uma mostra no templo da arte moderna MoMA.

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Cena de 'Os arquitetos', último filme da DefaFoto: Filmmuseum Babelsberg

O Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) apresenta, de 7 a 23 de outubro de 2005, 21 filmes produzidos na antiga República Democrática Alemã (RDA). O ciclo foi organizado numa colaboração entre o Departamento de Filme e Mídia do MoMA, o Instituto Goethe, a Filmoteca da Defa (a única companhia cinematográfica da RDA) e a Universidade de Massachussets.

Sob o título Rebels with a cause (Rebeldes com causa), a mostra – a maior do gênero já promovida em solo norte-americano – reúne produções de 1955 a 1990. Trata-se de uma alusão ao famoso Rebel without a cause, de Nicholas Ray, 1955, estrelado por James Dean (no Brasil: Juventude transviada).

Os filmes serão discutidos por especialistas na história da Defa. Diretores e atores ativos entre 1946 e 1992 na Alemanha Oriental também debaterão as complexidades políticas da produção artística em estúdios operados por um Estado totalitário. A atriz Jutta Hoffmann abriu a mostra, apresentando Der Dritte (O terceiro, de 1971), de Egon Günther, que protagonizou.

Defa: das intenções antiautoritárias ao controle comunista

A Defa (Deutsche Film AG) foi fundada em 1946. Inspirada nas melhores intenções democráticas e antifascistas, ela visava originalmente unir a produção cinematográfica do país dividido. Porém em 1953 passou às mãos do Estado comunista, tornando-se a única companhia de cinema da RDA.

Das Kaninchen bin ich
Cena de 'Das Kaninchen bin ich', RDA 1965Foto: Filmmuseum Babelsberg

A partir de 1965, o partido único SED encarregou-se da censura da produção da Defa, obrigando os diretores a veicular com extrema sutileza o conteúdo crítico de suas obras. Isso não impediu que filmes como Das Kaninchen bin ich (O coelho sou eu, 1965, incluído na mostra), do co-fundador da Defa Kurt Maetzig, ficassem proibidos por décadas, só sendo "desenterrados" após a queda do regime.

A queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, coincidiu com a estréia do primeiro filme da Defa sobre o homossexualismo, Coming out. Até sua extinção, com a reunificação do país, a companhia produziu mais de 750 películas, grande parte das quais no legendário Estúdio Babelsberg.

Segundo uma enquete recente, pelo menos 12 dessas obras merecem constar entre as 100 melhores produções cinematográficas alemãs de todos os tempos.

Medo e resistência

Die Legende von Paul und Paula
Cena de 'Die Legende von Paul und Paula', RDA 1972Foto: DEFA

Apesar de sua relevância política e/ou artística, estes e outros filmes ficcionais e documentários da Alemanha Oriental continuam desconhecidos do grande público. Rebels with a cause concentra-se assim em "obras significativas, criadas por cineastas inventivos, que testaram os limites da censura, e cujo engajamento político e profundidade contribuem para o mérito criativo da história do cinema".

Da seleção apresentada no MoMA constam obras de Manfred Wekwerth, Jürgen Böttcher, Harald Röbbeling e Heiner Carow. A contribuição deste último é o sucesso de bilheteria Die Legende von Paul und Paula (A lenda de Paul e Paula), de 1972, que traça um sensível retrato do cotidiano em Berlim Oriental, ao som dos roqueiros cult da banda The Puhdys.

Peter Kahane
Diretor Peter KahaneFoto: dpa

Das zweite Gleis (O segundo trilho), de Joachim Kunert, 1962, consta como o único filme alemão oriental a lidar com o sensível tema de ex-nazistas vivendo normalmente entre os cidadãos da RDA. Die Architekten (Os arquitetos), de Peter Kahane, que retrata o fracasso de uma utopia política, foi a última produção da Defa, só concluída em 1990, após a queda do Muro.

No geral, os 21 filmes, documentários e desenhos animados selecionados revelam de forma representativa os medos, inseguranças e crises de identidade que os alemães do Leste tiveram que enfrentar no pós-guerra. Mas também a energia com que se opuseram ao sistema totalitário.